"MEU FILHO ENTENDE TUDO MAS TEM PREGUIÇA DE FALAR!" SERÁ?

“Meu filho entende tudo, mas têm preguiça de falar” ou “Só fala quando quer e quando tem algo do interesse dele.”

Essa é uma frase recorrente no consultório. Muitas famílias chegam com essa queixa e com essa justificativa para o atraso de fala do seu filho. Eu, como mãe e fonoaudióloga acho esse termo “preguiçoso” muito pesado para uma criança. A preguiça é algo que ocorre quando estamos cansados, quando não temos energia para fazer coisas. As crianças geralmente estão sempre dispostas, correndo, brincando e gastando as energias que tem de sobra!

Então, vamos acabar com esse MITO de que a criança não fala porque tem preguiça ok?

A fala é um processo aprendido e exige um complexo funcionamento do nosso corpo, que para se desenvolver depende de fatores internos - próprios da criança - e externos- que se referem ao contexto social em que a criança vive. Além disso, a fala é uma das formas de manifestação da linguagem, pois nós podemos nos comunicar por meio de gestos, choro, sorrisos, olhares, comunicação corporal, entre outras. Então, é muito comum (comum e não normal) uma criança comunicar suas necessidades, vontades, desejos, medos, compreender todas as ordens e ainda assim não produzir nenhuma palavra.

Além disso, classificar uma alteração de fala como “preguiça” só prolongará aquele problema, visto que, quem ouvir isso provavelmente não pensará, de imediato, em procurar um especialista no assunto e ficará “esperando” a fala da criança “chegar”, o que poderá ocasionar problemas futuros de aprendizagem, anos mais tarde, na escola.

A criança inicia a pronúncia das primeiras palavras em torno de 1 ano e meio. No desenvolvimento normal de linguagem, uma criança com 2 anos de idade fala espontaneamente pelo menos 50 palavras, e já é capaz de falar uma frase com 2 palavras. Uma criança que nessa idade ainda não fala ou não forma pequenas frases deve ser avaliada por um fonoaudiólogo, que é o profissional capacitado para analisar o caso e definir se há necessidade de somente orientações, ou orientações e reavaliações ou ainda em alguns casos indicar a realização de fonoterapia.

E quais seriam então os motivos que levam a criança a não falar ainda? Vou citar alguns:

1) Dificuldade em falar, a fala é um ato muito complexo e depende de um aprendizado.

2) Ela pode apresentar um transtorno do desenvolvimento, como no caso do Autismo (TEA), mas nem toda criança que não fala tem autismo ok? Em outro post falaremos especificamente sobre esse tema.

3) Pode ser que a criança tenha um problema auditivo, e aqui cabe ressaltar que isso pode acontecer mesmo que o teste da orelhinha feito ao nascimento tenha dado resultado normal! Criança com dificuldade para ouvir não necessariamente é uma criança surda, existe muitos níveis de perda auditiva que por mais leve que seja já dificulta a aquisição a fala.

4) A criança pode também não falar por falta de motivação, e não preguiça!! A criança precisa sentir necessidade de se comunicar, observo muito no consultório essa falta de motivação para falar pois os pais/ avós/ cuidadores dão tudo nas mãos, a criança tem tudo o que precisa ao seu alcance e não “precisa” pedir.

5) A criança pode ainda viver em um ambiente que não é estimulador para que desenvolva a linguagem, por exemplo, não brincam, não conversam, não criam situações para que a criança desenvolva a fala.

Se seu filho ainda não fala, não espere e agende uma avaliação.

Quer saber como ajudar no desenvolvimento da linguagem do seu filho? Acompanhe aqui no blog o artigo “ 10 DICAS PARA AJUDAR SEU FILHO A FALAR”.

Dificuldade não é sinônimo de Preguiça! Procure um fonoaudiólogo! Que além de avaliar e tratar, também orienta sobre a comunicação e previne as alterações de linguagem.